Francisco Cezário de Oliveira, presidente da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) desde 1998 e que foi preso na última terça-feira (21) na Operação Cartão Vermelho, apresentou pedido de afastamento das atividades da entidade. Conforme o advogado André Borges, a licença será por tempo indeterminado.
Ele e outros seis foram detidos acusados de desviar mais de R$ 6 milhões da FFMS provenientes de recursos do Governo do Estado e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). As investigações do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) apontaram que os membros da organização faziam saques de até R$ 5 mil para não chamar a atenção das autoridades.
Conforme nota de esclarecimento, assinada na manhã desta segunda-feira (27) por Cezário, o pedido de afastamento vem para “preservar a FFMS, seus filiados e campeonatos de eventuais transtornos”. “Tudo com o objetivo de garantir a continuidade das atividades da Federação e respectivos campeonatos, sem prejuízo para conveniência das investigações e instrução processual”, diz o texto.
A nota ainda diz que a “verdade dos fatos” será demonstrada nas investigações e do processo, “até que provado a total legalidade dos atos praticados como Presidente da Federação de Futebol deste Estado”, afirma.
“Neste momento, o investigado deseja preservar a FFMS, seus filiados e campeonatos de eventuais transtornos, anunciando sua licença nos termos do Estatuto da FEMS, tudo com o objetivo de garantir a continuidade das atividades da Federação e respectivos campeonatos, sem prejuízo para conveniência das investigações e instrução processual”, alega.
Conforme levantamento obtido pelo Jornal Midiamax, a Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de MS) repassou R$ 8.327.803,20 desde 2015 à FFMS para investimentos nos campeonatos estaduais. Nos últimos três anos, o recurso do FIE (Fundo de Investimentos Esportivos) ultrapassou a cifra do milhão.
Sem contar os repasses da CBF, a Federação de Futebol recebeu milhões da Fundesporte para os campeonatos estaduais da Série A e futebol feminino. Entretanto, a FFMS declarou rombo de quase R$ 1 milhão em 2023.
Na ponta do lápis, o rombo informado não chega nem perto do montante desviado. Com o dinheiro lavado, a FFMS poderia pagar 6x o valor do déficit. O informado pelo Gaeco é referente a desvios de 2018 até fevereiro de 2023. Vale ressaltar que Cezário está à frente da Federação desde 1998.
Conforme informações do Gaeco, o grupo realizava pequenos saques de até R$ 5 mil para não chamar atenção dos órgãos de controle.
Mais de R$ 800 mil foram apreendidos, inclusive em notas de dólar somente durante o cumprimento dos mandados nesta terça-feira, além de revólver e munições.
Dessa forma, os valores eram distribuídos entre os integrantes da organização criminosa. O esquema se estendia também a outras empresas que recebiam altas quantias da federação. Assim, parte dos valores vinha ‘por fora’ ao grupo.
A organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol. Equipes do Gaeco cumpriram 7 mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.
Conforme o Gaeco, o nome da operação faz alusão ao instrumento utilizado pelos árbitros para expulsar os jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.